Resenha: Boa noite – Pam Gonçalves
“É bem legal essa coisa toda de independência, poder fazer o que quiser sem dar satisfação ou não ter meus pais sempre dando opinião. Mas agora, aqui, sozinha, depois de uma semana vivendo essa nova realidade, caiu a ficha de que nem tudo é mil maravilhas.”
Alina é aquele típico estereótipo de nerd da escola: estudiosa, sempre certinha e nada popular. Seu ingresso a uma universidade longe de casa, onde teria que se mudar e viver uma rotina completamente diferente, era tudo que ela achava que precisava para se reinventar. Poder começar uma nova história do zero, em um lugar onde ninguém a conhecia, tornou o peso da mudança mais excitante e divertido. Ela inicia essa nova parte de sua vida morando na República das Loucuras, onde faz novos amigos, precisa desenvolver sua responsabilidade e se virar nos contratempos do dia a dia, além de conciliar seus estudos com sua nova vida social, que antes era praticamente inexistente.
A princípio era tudo que ela sonhava. Mas já na primeira semana de aula enfrenta o preconceito de ser mulher dentro de um curso de Engenharia da Computação, onde os homens dominam em número. Com isso aumenta sua necessidade de se provar merecedora, que ser mulher não a diminui em nada, e tem que aprender a conviver com a triste realidade de machismo e desmerecimento praticados não só pela maioria dos colegas de turma, mas também pelos professores. Além disso, com suas amigas de república sempre a arrastando para festas e bares, decide se soltar e experimentar coisas novas, saindo de sua zona de conforto e dando mais “graça” à sua vida tão normal. Tudo está dentro do esperado até que uma página de fofocas da universidade é criada (xoxo Gossip Girl xD), onde todos podem se expressar anonimamente, fazendo com que todo tipo de comentário absurdo seja postado sem consequências. E o que começou como pura diversão se tornou algo sério quando notícias sobre uma nova droga e assédios começaram a se tornar frequentes. Alina se vê perdida no meio de tudo isso e com a ajuda de seus amigos tem que superar as primeiras decepções da vida adulta, além de se empenhar ao máximo em um projeto que se originou do medo constante das mulheres da faculdade, e que pode ser um importante aliado na luta contra o assédio sexual.
“Ao contrário do que somos educadas a pensar, as outras mulheres não são nossas inimigas, mas sim nossas irmãs. Um time. O exército que precisamos proteger. Se não protegermos e cuidarmos umas das outras, não serão os homens que o farão por nós. Juntas somos muito mais fortes.”
Já acompanhava o canal da Pam no YouTube há anos, foi um dos primeiros que comecei a assistir e me incentivaram a entrar mais ainda nesse mundo literário, aumentando minha paixão pelos livros. Sempre adorei os livros que li por indicação dela e quando soube do lançamento do seu próprio livro não tinha como não sair correndo pra comprar. Foi meu primeiro contato com a escrita dela (ainda não li seu conto no “O amor nos tempos de #likes”) e no fundo eu já esperava que não fosse me decepcionar. Mas foi muito além disso, me surpreendeu e muito. Eu amei o livro!
A personagem principal é muito cativante e é um prato cheio pra inúmeras meninas, como eu, se identificarem com ela. O desenvolvimento da personagem foi muito bem explorado, mostrando sua relação com os pais, sua insatisfação com a vida que estava levando e a necessidade de mudanças, que todos nós sentimos em algum ponto da vida. A narrativa é uma delícia, leve, fluida e não dá vontade de parar de ler… Tanto que terminei o livro em umas 5 horas no máximo xD. A apresentação dos outros personagens que fazem parte da trama principal também foi ótima: pudemos conhecer mais do que superficialmente a maioria deles e acompanhar o desenrolar de suas amizades com Alina. A linguagem do livro é bem descontraída, divertida e faz referências a vários produtos da cultura pop como Harry Potter, Gossip Girl, League of Legends e etc., o que fez eu me identificar ainda mais com o livro e querer um cachorro macho pra colocar o nome dele de Dobby xD.
Mas o mais importante de tudo pra mim foi tocar em feriadas abertas da nossa sociedade como preconceito, machismo, cultura do estupro e abuso de drogas, temas tão presentes ainda hoje no nosso dia a dia. Apesar de serem pesados, achei que os temas foram abordados de uma maneira muito acessível, direto ao ponto, com cenas fortes e comoventes, não deixando em momento nenhum de mostrar a realidade crua. Não romanceou demais os problemas ou amenizou situações grotescas. Jogou na cara mesmo todos os podres que nós mulheres temos que aguentar durante a vida e somos treinadas a fazer isso caladas, porque ninguém vai dar credibilidade. Senti aquele aperto no coração ao ler situações que já passei ou já ouvi casos próximos e ao mesmo tempo me senti acolhida por ver tantos tabus sendo desconstruídos em um livro na categoria de Jovens Adultos (YA), numa abordagem tão séria e bonita ao mesmo tempo.
Tenho certeza que todas as mulheres que lerem vão se sentir representadas em algum momento, vão sofrer junto com os personagens em cenas tristes que, mesmo sendo pesadas, não foram forçadamente dramáticas, e sim o que a realidade nos mostra todos os dias. Por isso acho que fez ainda mais seu papel de dar força a todas que já passaram por situações parecidas, incentivando a união feminina nessa luta diária e também mostrando, com exemplos espelhados em alguns personagens masculinos do livro, como os homens também são parte fundamental nessa luta. Foi realmente uma surpresa! Sou ainda mais fã da Pam do que já era e queria ler maaaaais! Espero que esse seja o primeiro de muitos livros dela.
Esse foi o primeiro livro que li das minhas metas de leituras pra 2017 e já comecei com o pé direito \o/. Espero que tenham gostado! Não deixem de seguir o blog nas redes sociais pra acompanhar tudo que aparecer por aqui… É só clicar, veeem! >> Facebook, Instagram e Twitter. Até a próxima! :*